O TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade) é um dos Transtornos do Neurodesenvolvimento, caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade que são inconsistentes com o nível de desenvolvimento de crianças e adolescentes que impactam negativamente atividades sociais e acadêmicas/ocupacionais. É um dos mais frequentes transtornos neuropsiquiátricos da infância, com incidência em 5,29% das crianças em todo o mundo, mais comum em meninos que em meninas, persistindo após a adolescência em até 70% dos casos, com taxa de prevalência entre 2,9 a 4,4% na vida adulta.
A etiologia do TDAH é multifatorial, combinando componentes genéticos e ambientais. A expressão clínica de desatenção é mais predominante no sexo feminino, enquanto que entre os homens são mais expressivas a hiperatividade e a impulsividade. Essa diferença é determinada por particularidades biológicas e componentes culturais.
Diversos são os achados acerca da etiologia e epidemiologia do TDAH, tanto em seus aspectos biológicos, quanto sociais e psicológicos. Contudo, as técnicas de tratamento ainda são incipientes e pouco discutidas na literatura. A mais frequentemente utilizada é a medicamentosa, com a administração de Ritalina (Metilfenidato). Intervenções comportamentais e psicopedagógicas também têm sido utilizadas, mas com pouca discussão da evidência de resultados. E, mais ainda, apesar de todos os marcadores, as técnicas de reabilitação ainda não dão conta de todos os aspectos, causando falhas no tratamento, além de, muitas vezes, um desnecessário e até perigoso uso de medicamentos na infância.
Uma técnica inovadora, não invasiva e não medicamentosa que vem sendo cada vez mais empregada é o neurofeedback. Por meio do treinamento da atividade de áreas e estruturas do cérebro que visa ao reestabelecimento de padrões eletrofisiológicos, o neurofeedback segue a máxima de que a pessoa com o transtorno se torna pouco focada quando a baixa ativação pré-frontal lhe impede a sustentação da atenção e que o tratamento deve se pautar pela alteração deste padrão através de um treinamento para o aumento do padrão frequencial no córtex pré-frontal. Esse treinamento é feito através de protocolos computadorizados pré-estabelecidos, de acordo com a avaliação do paciente por meio de eletroencefalograma (EEG).
A técnica do neurofeedback (ou biofeedback EEG) se propõe como um tratamento eficaz e efetivo para diversos transtornos, incluindo o TDAH. Apesar de ser usada desde os anos 1970 só mais recentemente, com a criação de novos protocolos e com o avanço das novas tecnologias da informação é que tem ganhado mais destaque.
O neurofeedback é o treinamento por sinalização sonora e visual da atividade de neurônios de áreas e estruturas do cérebro que tenham comprometimentos funcionais. É uma terapia neurológica não medicamentosa e não invasiva que leva a atividade comprometida à sua normalização. Uma vez que os eletrodos são colocados na cabeça o computador monitora a atividade neurológica em tempo real e sinaliza, sonora e visualmente, de acordo com os parâmetros para o treinamento estabelecido, com base em valores normativos de referência para a idade e o sexo do paciente. O computador apresenta de volta (feedback) à pessoa em treino, aos neurônios em treino, informações sobre sua atividade, sinalizando, momento a momento, sua adequação ou não frente a critérios de atividade previamente estabelecidos.
O uso do neurofeedback surgiu da percepção de que drogas estimulantes como a ritalina que aumentam a amplitude relativa do EEG pré-frontal diminuem os sintomas da desordem. Estes achados foram acompanhados de medidas diretas dos padrões eletroencefalográficos dos portadores da desordem, caracterizados por aumento da proporção de ondas de baixa ativação em relação às ondas de alta ativação no córtex pré-frontal.
A aprendizagem é uma das áreas mais afetadas pelo TDAH. Estudantes com o transtorno têm a autoavaliação e automonitoramento pobres, por isso mesmo, além de baixa atenção aos comandos dos professores e aos conteúdos acadêmicos, tem pouca crítica acerca de seu próprio comportamento e a suas próprias deficiências de aprendizagem, não conseguindo planejar os estudos. Tendem a ter maior dificuldade em concluir os estudos, maior índice de repetência, expulsões e trocas de escolas, além de rendimento escolar abaixo da média esperada para a idade.
Os resultados dos estudos acerca do uso clínico do neurofeedback como tratamento do TDAH tem se mostrado altamente eficaz em pacientes crianças e jovens, sendo que sua eficácia é um dos temas mais debatidos na área no momento, não havendo pesquisas que contestem seus resultados. O que é sem dúvida um dado importante na consideração do neurofeedback como técnica no TDAH em jovens escolares, visto que uma quantidade significativa sofre tanto no ambiente escolar quanto em outros contextos de suas vidas por conta do transtorno. Importante, contudo, lembrar que somente profissionais treinados e especializados têm condições de usar a técnica corretamente sem causar prejuízos e sim ajudando de fato quem sofre com o transtorno.
Marcelo Franco
Psicólogo Cognitivo-Comportamental e Neuropsicólogo
Mestre em Políticas Públicas e em Humanidades
Professor da Pós-Graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental da Unichristus